IS Impérios Sagrados
5 min readApr 3, 2021

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A CRÍTICA DO CONCEITO DE IDENTIDADE EM BUTLER COMO SIGNIFICADO DA TRANSVALORAÇÃO DA LINGUAGEM EM NIETZSCHE

Como relacionar de forma crítica as relações entre linguagem e identidade nos romances brasileiros sob a ótica dos conceitos de transvaloração dos valores em Nietzsche e de sexo e gênero em Judith Butler tendo por base a pergunta: é possível afirmar que aqueer theory representa, e em que medida, a transvaloração dos valores proposta por Nietzsche no panorama dos romances brasileiros?

Acreditamos que discutir se o paradigma e conceito queer pode ser considerado um sinal de transvaloração da linguagem e, dessa forma, de identidade ao falarmos de política identitária nos romances publicados no Brasil é um bom começo para o tema.

Em que medida Butler cumpre a transvaloração dos valores de Nietzsche ao abordar o sexo e gênero a partir da queer theory? Para nós o ponto de encontro entre os dois filósofos se a partir da crítica à linguagem. Somente uma crítica à identidade, que remete à tradição metafísica e lógica-filosófica, portanto aos princípios de não contradição, do terceiro excluído e de causalidade, que ainda permanecem praticamente inquestionáveis na linguagem, é que a transvaloração dos valores pode se dar. Judith Butler, ao nosso ver, opera essa crítica ao abrir espaço para falarmos de política identitária com o advento daqueer theory.

Linguagem: é esse, ao nosso ver, o grande campo político contemporâneo de atuação o qual permite criticarmos e pensarmos como politicamente e o conceito de identidade se torna excludente e representante de uma tradição que ainda não colocou a vida como um valor acima dos outros. Ao escolhermos os romances publicados no Brasil a homoafetividade seja o enredo, estamos

Será na des-construção operada por Nietzsche que todo o edifício conceitual racional lógico-filosófico levará duras marteladas. Para nós, interessa especialmente o desmantelamento crítico dos conceitos de identidade e linguagem que herdamos da tradição filosófica e que para o autor serão signos do rebanho, modelos de racionalidade excludentes para o pensamento e, dessa forma, da própria vida.

“A história da metafísica pode ser pensada, a partir de Nietzsche, como a história da produção e cristalização da noção de identidade” (MOZÉ, 2011, p.). Identidade essa que se é expressa pela linguagem, afinal, para todo ser vivente e as coisas existe um nome que os define. Uma identidade lhe é conferida. Ao colocar em questão a racionalidade a partir dos princípios lógicos de identidade, não contradição e de causalidade, estamos questionando a própria noção de sujeito e, dessa feita, questionando a própria linguagem que o nomeia.

Operar a transvaloração dos valores é a um só tempo rever e ressignificar a linguagem utilizada para nomear os seres e a própria noção do que é o ser, se é que é possível ser. O próprio conceito de ser, uma produção da metafísica, é a crença da identidade e da permanência, da duração, da verdade, de fundamento: “Não se busca somente descobrir uma explicação da causa, mas sim se elege e se refere uma classe particular de explicações, aquela que dissipa mais rapidamente e em menor número de casos a impressão do que é estranho, do novo, do imprevisto (…) O banqueiro pensa imediatamente no negócio, o cristão no pecado, a cortesã no amor”. (NIETZSCHE, 1999, 50).

Essa busca pela estabilidade, pela permanência, pela duração colocou a linguagem à serviço da noção de identidade e acabou por produzir um mundo em “que não é mutável e flutuante no devir, mas que é o ‘ser’ “ (NIETZSCHE, 2004, p. 36). Em última instância negar a mudança, negar o devir é negar a própria vida. E a negação da vida é justamente o alerta do filósofo ao que ele constatou e chamou de niilismo.

“Quando Nietzsche se refere ao niilismo como negação da vida, ele se dirige a toda história da metafísica construída sobre esses pilares” (MOSÉ, , p43). Negar a vida é colocá-la a serviço dos valores ditos superiores como o mundo inteligível, o cristianismo e a própria ciência como se esses fossem critérios maiores que a própria vida e, desse modo, valores superiores a ela.

A negação da vida, portanto da possibilidade de mudança e do devir, recai novamente na crença de uma identidade imutável assegurada por uma linguagem presa e engessada aos princípios lógico, moral e metafísicos. Identidade e linguagem se tornam, assim, amarras que negam o devir que é a existência humana, de forma que “a linguagem é produto da necessidade psicológica de exclusão das diferenças, da vontade de nivelamento e redução, do medo da pluralidade e do conflito” (MOSÉ, 2011, p. 19).

Se, conforme diz Heidegger, “a linguagem é a casa do Ser” (1995, p. 24), mas não mais um ser fundado em uma essência além mundo, então, uma crítica ao princípio de identidade transpassada pela linguagem é uma crítica que atinge o ser-aí em sua con-vivência e, portanto, o ser-do-ente em sua singularidade. “Libertar a linguagem da gramática, para um contexto Essencial mais originário, está reservado ao pensar e ao poetizar” (HEIDEGGER, 1995, p. 25). E isso somente será possível se mantivermos uma atitude fundamental, como diz Heidegger, em que “devemos libertar-nos da interpretação técnica do pensamento” (1995, p. 26). Interpretação essa que remonta, segundo o autor, ao menos em seus “primórdios até Platão e Aristóteles. Para eles o pensamento é, em si mesmo, uma techne, o processo de calcular a serviço do fazer e operar” (1995, p. 26).

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Autor:

Cristian Abreu de Quevedo

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